_________________________________________________________________________________________________


quinta-feira, 19 de julho de 2018

Sobre amor, sons e emoções...



Eu fiz 15 anos numa época que o auge da festa era a valsa. Sempre gostei de dançar, sempre gostei de música clássica, e meu pai era um conhecido “pé de valsa”. Ensaiamos pouco; ele conduzia como ninguém.

Ainda, sempre gostei de arte e de festa. Assim, num tempo em que os bailes de debutantes eram branco e rosa, eu e Minhosa fizemos sozinhas toda a decoração em tons de pérola e vinho. Meu sapato eu mesma pintei, não havia da cor que eu queria. Muita coisa pintamos com chá mate e café. Deu mais trabalho, mas foi como eu quis. A mesa de centro era inusitadamente triangular, haviam 3 castiçais que mandamos fazer, cada um com 5 velas, bem ao estilo salões europeus do século XIX.

Meu vestido cor de pérola era midi, rodado, todo bordado por mim e pela Minhosa. Frente única, o decote das costas encerrava na cintura com um laço. Minimalista para um tempo de mangas bufantes. Ele me serve até hoje. Confesso que há alguns anos passei réveillon com ele, numa festa brega.

Meu cabelo era Channel, muito lisinho, com a franja presa delicadamente do lado direito. Nada de penteados mirabolantes que fazem uma debutante se transformar numa jovem senhora.

Chega a hora da valsa. Luzes apagadas, velas acesas, um salão inteiro pela frente. Meu pai não era de “dois pra lá, dois pra cá”. Tampouco eu. A pista era nossa, totalmente aproveitada como que em um concurso de dança, e nos ápices de Danúbio Azul, minha valsa preferida, entre rodopios ao redor da mesa triangular, alumas palavras, lágrimas e sorrisos, voavam meus cabelos, minha saia, o laço da cintura, eu e meu pai. Não pisávamos no chão. Os amigos, até então acostumados com uma apresentação protocolar, já eram plateia, e como que se participassem dos passos, a cada rodopio palmas e mais palmas.

Em 06’06” posso sentir outra vez o vento em meu rosto, o calor da lágrima rolando; posso ver meu pai me olhando.

O fotógrafo não foi... O registro de vídeo pouco é revisto. Mas o da alma... ah, o da alma... é vivo como se tivesse acabado de acontecer. E outra vez transbordei em lágrimas.


“A memória guardará o que vale a pena. A memória sabe de mim mais que eu, e ela não perde o que merece ser salvo.” Eduardo Galeano




Nenhum comentário:

LinkWithin

Blog Widget by LinkWithin