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Eu ando muito pensativa nos últimos tempos. Né, Leila?! rs Quanto mais observamos, mais analisamos... E por vezes fazemos de nós mesmos nossas cobaias para ver até onde vamos, até onde deixamos o outro ir. Talvez longe demais... Lembrei de um amigo (mentira, um "ex-amor") que dizia "não sou carburador para ser testado". rs Não falava isso pra mim (ou de mim), já adianto! rs Sempre fui uma boa namorada! O fim da nossa história não tem a ver com testes, muito menos com falta de amor. Tem a ver com muitas outras coisas que não vem ao caso, pois o mote do post é outro! Penso que vamos até de forma inconsciente nos testando ao longo do caminho. A gente dá corda pra gente mesmo porque precisamos saber nossos limites... Por vezes nos enforcamos com essa corda, mas... "if you get thwarted, c'est la vie"!
Eu acho que li O Pequeno Príncipe na infância. Acho. Não tenho certeza. O fato é que se li, esqueci. E nesses últimos tempos de pensamento quase 24h por dia (não tenho tido folga nem nos sonhos) volta e meia alguma coisa me mostrava o livro. Uma frase que alguém postou no Facebook, uma página, um participante do BBB16 lendo (sim, de vez em quando dou uma espiada, não escondo!)... Pensei: vou ler. Confesso que fico um pouco reticente com o que vira chavão demais... rs Então só dá pra ler quando a vontade vem com força mesmo!
E ela veio domingo. Se li na infância, foi meio que perda de tempo quanto ao conteúdo rs. É um livro para crianças grandes... Não vou dizer que me tornei uma fã incondicional da obra, que vou comprar camiseta, caneca e caneta de O Pequeno Príncipe. Nem tanto... rs Mas sem dúvida gostei do livro, e vou ler novamente, porque a sede era tanta de chegar ao final que merece uma segunda leitura. Ou uma terceira. Tem coisas que precisamos ouvir e ouvir mais uma vez, e ouvir de novo. Não que não saibamos daquilo, mas por vezes vindo de fora é mais forte, corrobora e aclara o que está dentro. Às vezes o livro traz situações familiares, aí tudo faz sentido. É assim com música também. Sempre tem uma música que fala exatamente o que estamos sentindo, o que estamos vivendo. Ando cantarolando Frank Sinatra e Legião Urbana... Mas desde sábado é Supertramp que está na cabeça.
Mas só para não dizer que não tem origami nesta postagem, em 2011 estive no Chile como convidada especial do 2º Congreso Latinoamericano de Origami. Na exposição trabalhos de vários origamistas da América Latina, e um deles era muito legal: Pato Kunz, chileno, fez um origami para cada capítulo do livro... É uma maravilha o trabalho!!! Podem ver a galeria de fotos dele clicando aqui.
Essas são algumas fotos que fiz no Chile (putz... bateu uma saudade daquele congresso...):
Voltando a vaca fria...
Tenho pensado na responsabilidade que temos ao soltar palavras; no que vem atrás delas; na interpretação que o ouvinte faz delas; no que é verdade momentânea; no que é "verdade verdadeira"; no que se sustenta; no que sai de dentro; no que sai do sovaco esquerdo...
Não passarei a noite falando detalhadamente sobre minhas observações e conclusões - até porque estou bem cansada... São muitas, muuuuuitas, e um mero codicilo tornar-se-ia um testamento... rs É um perigo deixar advogado escrever... rsrs
O importante de ser dito neste momento é que para mim trabalhamos sempre (ou quase sempre) com padrões. Meu padrão sou eu mesma. Espero que não soe pretensioso, porque não é. É bem teórico: tento viver de acordo com a ética da reciprocidade, ou a "Regra de Ouro", como era chamada pelos grandes Mestres da humanidade. Em resumo, é uma máxima moral que determina que devemos tratar os outros como gostaríamos de ser tratados. Encontramos a Regra de Ouro escrita quase da mesma forma em textos do Cristianismo, Sócrates, Aristóteles, e em tantos outros.
Immanuel Kant, em "A Metafísica da Moral" (nos idos de 1797), desenvolveu a ideia do "imperativo categórico": devemos agir sempre baseados nos princípios que desejamos ver aplicados universalmente. "Imperativo": é um dever (moral, no caso); "Categórico": atinge a todos, sem exceção. Assim, ele ampliou a Regra de Ouro, entendendo que devemos "fazer para os outros o que gostaríamos que todos fizessem para todos". Ele queria dar uma estabilizada no que é certo e combater o "relativismo moral", essa ideia de o que é certo depende da situação e/ou do contexto. Bem... penso que não dá pra ser radical em quase nada nessa vida, e tem situações de relativização da moral (como uma situação de iminente risco da vida), mas isso é exceção. A grosso modo, penso que a ideia é evitar o famoso "dois pesos e duas medidas". E aí concordo plenamente com o Mestre! Para agir com segurança devemos agir segundo princípios universais e não regras circunstanciais.
O Pequeno Príncipe não sabia o que é "cativar", e foi aprender essa tão importante palavra, esse tão importante sentimento, com uma raposa... A raposa é um animal solitário, traiçoeiro, que está associado a esperteza, a não se importar com o outro. As pessoas com comportamentos desleais são metaforicamente chamadas de "raposas", por sua característica da caça traiçoeira. E é logo ela que ensina ao Príncipe o que é "cativar"... Não creio que Saint-Exupèry escolheu do nada uma raposa para o livro... Não saiu do sovaco esquerdo; era pra gente pensar mesmo, afinal há sempre algo bom no outro, ainda que esteja escondidinho...
Só devemos cativar o outro se estamos dispostos a fazê-lo com fieldade, sob os ditames da Regra de Ouro oxigenada pelas considerações de Kant: cativar não pode ser circunstancial. Minha Nossa Senhora cheia de MUITA Graça, que se entenda isso logo, porque é justamente aí que entra o problema: o "cativar circunstancial" está na moda. As pessoas andam muito efêmeras... Encontra-se "melhor amigo de infância" em cada esquina, mas na outra... perde-se o... "qual era o nome mesmo?"...
Aí fiquei pensando: será que é culpa dessa carência generalizada que anda assolando o mundo? Depende. Desculpem o "defeito profissional"... rs é que em Direito tudo depende! Mas aqui penso que depende mesmo. Para mim, em muitos casos sim, a carência faz deixar-se cativar com muita facilidade, e isso é um passo para a ilusão. Toda ilusão mais cedo ou mais tarde dá lugar à desilusão... e isso dói! Lado outro, o agir de acordo com o imperativo categórico faz com que pensemos que o outro só faz e fala o que nós mesmos somos capazes de fazer e falar. Aí... nos sentimos confortáveis naquela aparente fieldade do sentir e dizer, porque dizemos e agimos o que de fato sentimos, então recebemos tudo como "verdade verdadeira". Resultado: tá cativado... Maaaaaaas... às vezes era apenas uma "verdade momentânea"...
Vejam que não estou indo pro lado da sacanagem, do agir doloso, porque isso seria falta de caráter mesmo... rs Penso que a ninguém é dado o direito de ser leviano com o outro. Lembrei de uma frase que vi na internet outro dia, não sei quem é o autor: "Se for para ser filha da puta, que seja desde o começo, porque ninguém merece achar uma pessoa legal e logo depois descobrir que ela não presta" - "não presta" é muito forte, mas é a frase do cara! rs Já passei por isso... Dói, e dói muito. Acho que todos já passaram! A gente se sente muito idiota, né?? Mas é a vida (c'est la vie - parte II)... Mesmo assim (quase) sempre vale a pena, nem que seja para autoconhecimento! rsrs Meio "Pollyanna" isso, mas é instinto de sobrevivência! Até porque o mundo não para pra gente recuperar o chão. Aliás, vale a pena também ler Pollyanna.
Aí fiquei pensando: será que é culpa dessa carência generalizada que anda assolando o mundo? Depende. Desculpem o "defeito profissional"... rs é que em Direito tudo depende! Mas aqui penso que depende mesmo. Para mim, em muitos casos sim, a carência faz deixar-se cativar com muita facilidade, e isso é um passo para a ilusão. Toda ilusão mais cedo ou mais tarde dá lugar à desilusão... e isso dói! Lado outro, o agir de acordo com o imperativo categórico faz com que pensemos que o outro só faz e fala o que nós mesmos somos capazes de fazer e falar. Aí... nos sentimos confortáveis naquela aparente fieldade do sentir e dizer, porque dizemos e agimos o que de fato sentimos, então recebemos tudo como "verdade verdadeira". Resultado: tá cativado... Maaaaaaas... às vezes era apenas uma "verdade momentânea"...
Vejam que não estou indo pro lado da sacanagem, do agir doloso, porque isso seria falta de caráter mesmo... rs Penso que a ninguém é dado o direito de ser leviano com o outro. Lembrei de uma frase que vi na internet outro dia, não sei quem é o autor: "Se for para ser filha da puta, que seja desde o começo, porque ninguém merece achar uma pessoa legal e logo depois descobrir que ela não presta" - "não presta" é muito forte, mas é a frase do cara! rs Já passei por isso... Dói, e dói muito. Acho que todos já passaram! A gente se sente muito idiota, né?? Mas é a vida (c'est la vie - parte II)... Mesmo assim (quase) sempre vale a pena, nem que seja para autoconhecimento! rsrs Meio "Pollyanna" isso, mas é instinto de sobrevivência! Até porque o mundo não para pra gente recuperar o chão. Aliás, vale a pena também ler Pollyanna.
O que chamo de "verdade momentânea" está ligado a essa atual habitual falta de cuidado de uns com os outros (seria um agir leviano?...), e até consigo mesmo. Acha que sente (ainda estou considerando a bondade alheia, não o agir doloso), compartilha o sentimento momentâneo, depois vê que não sente e "liga o foda-se", como se nada tivesse acontecido, como se nada tivesse sido dito. Mal entendido armado, coração partido: o amigo não era amigo, o querer bem não era querer bem... e até mesmo amor não era amor. Eu odeio mal entendidos; são como uma sentença condenatória sem fundamentação, aí a gente nunca vai saber de fato o que desandou, onde mora o problema...
E o problema... é que temos sempre pressa, e assim nos rendemos ao que nos faz sorrir sem motivo, na certeza de ter naquele momento todos os motivos do mundo. Não esperamos descortinar o véu do encantamento, único acontecimento capaz de abrir os olhos da razão. "Espera... O tempo age.. O tempo se encarrega de jogar no chão as nossas mentiras. Porque não é o outro que mente pra gente não, é a gente que faz questão de mentir pra gente mesmo", já dizia o Padre Fábio de Melo (vale a pena ver o vídeo... hilário rs). No fundo... a gente sabe! Mas aquele danado daquele veuzinho do encantamento... Ah... encobre o mundo real... Certamente "ninguém é obrigado a ser o que a gente imagina que seja", já dizia o mesmo padre. Concordo. Mas também ninguém deveria vender gato por lebre... Devia ser crime contra o consumidor bem intencionado de bons sentimentos!
Em verdade, pelo contexto a frase de Saint-Exupèry que fez tudo isso aí em cima fervilhar na minha cabeça e coração está ligada a saudade de alguém que se gosta com fieldade, não à desilusões pessoais de todo gênero, rumo interpretativo que tomei aqui. Mas como tudo na vida pode ser analisado pelos mais diferentes prismas, e principalmente para alguém que anda tão pensativa, um pingo é um alfabeto inteiro!
E lá no final do capítulo XXV está o que desencadeou toda esta pseudo lucubração: "a gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixou cativar..."
E aí o que a gente faz? Não se deixa cativar, criando uma segura barreira que evita aprofundamentos, ou continua agindo segundo nosso coração, guiado pela ética da reciprocidade, e corre o risco de chorar um pouco quando o outro não corresponde a sua fieldade?
Tudo isso não é um discurso contra entregar-se aos bons sentimentos que devem estar presentes em todos os tipos de relacionamento humano. Jamais!!!! Isso não seria Isa Klein!!! Devemos seguir nossos dias com estrelas nos olhos e sorrisos no coração, sempre tentando errar o menos possível e cuidando para que o cativar não seja circunstancial... O mundo está cheio de gente maravilhosa esperando por nós!!!!! O que penso ser fundamental é aprendermos a ouvir nosso coração e só transformar em palavra depois de um pouquinho que seja de certeza, depois de passar a primeira onda de euforia. Isso é cuidado, isso é respeito!
Lembrei de um autor que gosto muito... Millôr Fernandes. Ele dizia que "com muita sabedoria, estudando muito, pensando muito, procurando compreender tudo e todos, um homem consegue, depois de mais ou menos quarenta anos de vida, aprender a ficar calado." Ufa! Ainda é tempo!
E para terminar ainda com ele, não esqueçamos:
"Certas coisas só são amargas se a gente as engole."
Millôr Fernandes
Desculpem o "foda-se", mas a expressão era essa mesmo! rsrs De "Kant" a "foda-se", passando pelo "filha da puta" e um "merda" alheios em um único texto... Ah, mas aqui é uma conversa entre amigos, na sala de casa, onde vocês entram e ficam sempre à vontade, né?!
Ainda, desculpem o longo texto... rsrs Falador aberto hoje!!! rsrsrsrs
Quem tiver paciência de ler, deixe sua opinião também! É muito engrandecedor ouvir o que o outro pensa!
Ando pensando tanto sobre as mazelas do comportamento humano... Mas isso é, se o caso, papo para outro post... rsrs
Tenham todos uma boa noite e lindos sonhos!!!
Beijos no coração
Isa
♥
2 comentários:
Isa, muitas questões borbulham em seu texto... penso que o Pequeno Príncipe é um livro para grandes... em muitos momentos encontramos frases que podem nos causar, como lhe causou... "a gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixa cativar", por que viver é sempre um risco e, como no livro, pode ter um final doloroso, mas também construtivo... quem não se permite arriscar, ou se deixar cativar, pode passar pela vida sem ilusões ou desilusões, como preferir, mas também sem um olhar que brilha e reflete o brilho de outro olhar... sem encontrar a tão procurada felicidade, que não cai do céu de forma mágica, mas que para mim se traduz em processo de construção, onde podemos decidir ser feliz, apesar de... (legenda: estar de bem consigo mesmo, apesar de...)! Fique em paz e se deixe cativar! bjs
Os Homens - Cora Coralina
Em água e vinho se definem os homens.
Homem água. É aquele fácil e comunicativo.
Corrente, abordável, servidor e humano.
Aberto a um pedido, a um favor,
ajuda em hora difícil de um amigo, mesmo estranho.
Dá o que tem
– boa vontade constante, mesmo dinheiro, se o tem.
Não espera restituição nem recompensa.
É como água corrente e ofertante,
encontradiça nos descampados de uma viagem.
Despoluída, límpida e mansa.
Serve a animais e a vegetais.
Vai levada a engenhos domésticos em regueiras, represas e açudes.
Aproveitada, não diminui seu valor, nem cobra preço.
conspurcada seja, se alimpa pela graça de Deus
que assim a fez, servindo sempre
e à sua semelhança fez certos homens que encontramos na vida
– os Bons da Terra — Mansos de Coração.
Água pura da humanidade.
Há também, lado-a-lado, o homem-vinho.
Fechado nos seus valores inegáveis e nobreza reconhecida.
Arrolhado seu espírito de conteúdo excelente em todos os sentidos.
Resguardados seus méritos indiscutíveis.
Oferecido em pequenos cálices de cristal a amigos
e visitantes excelsos, privilegiados.
Não abordável, nem fácil sua confiança.
Correto. Lacrado.
Tem lugar marcado na sociedade humana.
Rigoroso.
Não se deixa conduzir — conduz.
Não improvisa — estuda, comprova.
Não aceita que o golpeiam,
defende-se antecipadamente.
Metódico, estudioso, ciente.
Há de permeio o homem vinagre,
uma réstia deles,
mas com esses, não vamos perder espaço.
Há lugar na vida para todos.
(Cora Coralina, in “Vintém de Cobre: Meias confissões de Aninha”)
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